quinta-feira, 16 de julho de 2009

MEDIAÇÃO SIMBOLICA.

Todos nós sabemos e concordamos que os seres humanos são diferentes. Ninguém é igual a ninguém. Cada ser humano possui características próprias que não são iguais em nenhuma outra pessoa. A questão é: o que nos faz sermos entre bilhões de cópias, cada uma original e diferente da outra? Podaríamos afirmar que um dos principais motivos refere-se a nossa personalidade resultante do desenvolvimento psicogenético, do mundo da mediação simbólica, da semiótica, resultante da estreita relação do pensamento e a linguagem, alem de outras características, que nos proporcionam identidades singulares, ou seja, únicas.
Um dos principais fatores que permite ao homem ser diferente de seus semelhantes é a medicação simbólica. Aqui o termo “mediação simbólica” assume a idéia da intermediação, que se encontra interposto entre uma coisa e outra. Neste sentido, a existência humana e seu contato com o meio, não se da de forma direta, mas é feito através de instrumento e signos. Sob a forma de instrumentos ela acontece em situações em que usamos objetos, ferramentas encontradas no meio ou produzidas por uma técnica. Um exemplo é quando usa-se um marchado para cortar um arvore. Minha relação não é direta, pois é interposta, mediada pelo marchado. Um outro exemplo de medicação, situada de forma posterior no desenvolvimento a medicação por instrumentos, é a medicação por signos. É posterior por se desenvolver a partir da mediação por instrumentos. A medicação por signos é de natureza semiótica, ou seja, simbólica e representa um grande salto evolutivo na espécie humana.




Signos

A mediação simbólica também possui dois outros aspectos importantes. Ela faz a mediação entre meu eu e o mundo por sua natureza semiótica, ou seja, por causa dos signos. Entre esses aspectos é importante ressaltar que existem signos que possuem uma existência concreta como em placas. Poderíamos tomar como exemplos o desenho do chapéu e do guarda-chuva em portas de toaletes, representando o masculino e feminino. São símbolos que não tem relação imediata com o toalete, mas estão postos para intermediar, estão entrepostos entre a identidade de gênero e o efetivo toalete.
Outra natureza dos signos é quando estes apresentam-se sob uma natureza semiótica ou de símbolos dentro de nosso mundo psicológico, mediando pensamento e linguagem com o mundo real, configurando assim uma das característica mais fantásticas do ser humano, de representação mental.
O ser humano, pela mediação simbólica é afetado pelos signos e o seu significado culturalmente instituídos, e através deste pode representar em sua mente aspectos do mundo real. O homem tem através deste a possibilidade de transitar, simbolicamente pelo tempo e o espaço.
Através desta faculdade do ser humano, tem a possibilidade imaginar situações, “coexperienciar” fatos, acontecimentos de modo simbólico e representativo em seu mundo psicológico, não sendo necessário fazer a experiência empírica.
Por meio da representação simbólica, através do conhecimento, pela ciência e da sociedade, tem a possibilidade de imaginar, representar situações. Permite assim que o homem evolua, pois não precisa refazer toda a trajetória da evolução humana.

Pensamento e Linguagem.

O signo não é uma construção individual, de um único indivíduo e não se constróem a si próprios, autonomamente. São construídos socialmente na história, ou seja, é uma constituição social. O signo proporcionou ao homem a capacidade de representação simbólica, tendo a cultura como oferta de material ao campo simbólico. Desta forma, com a evolução humana, todos os grupos sociais constituíram sua língua, que em Vigotski se expressa pelo termo linguagem.
A linguagem possui duas funções básicas: primeira função é da comunicação, da necessidade de comunicar algo aos semelhantes, compartilhar uma informação ou situação. Essa é uma característica básica e também se faz presente em outras espécies de animais, pois não se refere a um conjunto de sinais articulados e complexos como a dos seres humanos. No ser humano a linguagem nasce sob este aspecto, de simples comunicação, não estando relacionado com questões conceituais.
Uma segunda função ou aspecto da linguagem é a generalização que surge no desenvolvimento da psicologia humana do encontro da pré-linguagem com o pré-pensamento. Ou seja, uma espécie de pré-pensamento e pré-linguagem se cruzam e interligam. Esa função ou aspecto implica no uso da linguagem como mediação simbólica em uma visão generalizada do mundo.
Desta forma o ser humano inicia uma classifica o mundo pelas nomeações. Quando atribuo um nome a algo, estou dizendo que esta coisa é diferente de todas as outras e conseqüentemente, estou distinguindo tal coisa do resto do mundo. Uma nomeação, já divide um mundo em duas classes de objetos. O ato de nomear é um ato de classificação, de tal forma que classificar é algo importante no desenvolvimento do ser humano.
Todos estas características e a relação entre pensamento e linguagem são importantes para a evolução humana, possibilitando ao homem transitar pelo mundo simbólico, da imaginação, representando um salto qualitativo em direção ao desenvolvimento, permitindo-lhe imaginar, abstrair, comparar, criar, se auto-construindo como ser humano.

O Significado.

O significado é algo tão estreito entre o pensamento e a linguagem que em muitos momentos históricos foram confundidos ou vistos como a mesma coisa. Mas o que é de fato o significado?
Do ponto de vista da psicologia, o significado é visto como uma generalização, ou conceito. o signo só tem um significado, na concepção Vigotski, no momento que é generalizado, e essa é uma ação do pensamento. Desta forma podemos dizer que significado é algo do pensamento. É importante deixar claro que significado não é sentido, que é algo que diz respeito ao sujeito e sua subjetividade.
Para entender o significado de um signo é preciso considerar que Vigotski parte do princípio de que a relação entre o pensamento e a linguagem é algo tipicamente humano, de fundamental importância para se entender o fenômeno da psicologia humana, não sendo algo inato aos homens, não nascendo com eles, mas se desenvolve de forma histórica e cultural dos sujeitos, ou seja, ele se desenvolve com os sujeitos em suas trajetórias de desenvolvimento.
Torna-se importante ressaltar que o pensamento e a linguagem nascem separados no ser humano. A linguagem nasce como uma primeira forma de comunicação, semelhante ao que acontece em animais como chipanzés e golfinhos, através de gestos, sons, sendo uma primeira forma de interação social, usados para se defender, caçar, reproduzir, geralmente com um código de comunicação fechado e limitado. Da mesma forma há também um pré-pensamento, que ainda não é um pensamento conceitual, mas que serve para as atividades práticas.
Nesta o homem já atua sobre o seu meio com uma certa inteligência, resolvendo problemas do mundo da práxis, buscando soluções para problemas do mundo prático, situações que se colocam em seu percurso ou trajetória de desenvolvimento. O homem atua sobre o meio, inserido em um certo contexto social. As características do pré-pensamento e da pré-linguagem, portanto, não são de exclusividade humana, pois estão presentes em espécies animais em diferentes graus.
O questionamento que nos vem a mente é: qual a diferença entre os animais e seres humanos, que permite que o homem se desenvolva para alem do pré-pensamento e da pré-linguagem, enquanto que os outros não migram para um grau maior de desenvolvimento?
A resposta, segundo Vigotski, está justamente no fato de que o pensamento e a linguagem humana em determinado momento do desenvolvimento da criança se cruzam na linha de desenvolvimento, se interligam e relacionam, ou seja essas duas potencialidades se unem num salto qualitativo das funções superiores da mente e do funcionamento da psicologia humana.
Sabe-se que este acontecimento, em determinado momento do desenvolvimento ontogenético e filogenético, representa o surgimento do ser humano. É este fato que permite ao homem transitar por espaços simbólicos. Assim pode resgatar o passado, projetar o futuro. A partir daí é capaz de imaginar, criar, inventar um mundo de possibilidade. É capaz de entender a si mesmo e seus semelhantes.
Postado por Prof. Odair às Domingo, Janeiro 13, 2008

Um comentário:

  1. Muito bom mesmo, me ajudou demais :) Texto claro e coeso, e altamente explicativo.

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